A três-maiense que conserta e afina órgãos musicais de igrejas e de escolas de música pelo mundo afora 3y1x47
Haidy Ronke, 61 anos, mora há 38 anos na Alemanha. Ela saiu do Brasil na década de 1980 para trabalhar como babá, na casa de uma família na cidade de Leer. Hoje, a profissão dela oportuniza viagens à Europa e outros países do mundo para consertar órgãos de igrejas e de escolas de música. Haidy esteve em Três de Maio entre 12 de outubro e 17 de novembro. Seu retorno à Alemanha está marcado para o dia 21 3o11u

Filha de Fridolino e Gertrudes Ronke (já falecidos), Haidy trabalhou por quatro anos como secretária na Comunidade Evangélica São Paulo de Três de Maio. Na época, estudava na Escola Monteiro Lobato, no período da noite. Quando concluiu o 2o grau (atual Ensino Médio), então com 20 anos, recebeu um convite de um pastor americano, para ir aos Estados Unidos, isso no ano de 1981.
Haidy aceitou o convite, mas não queria ficar somente três meses como turista. Por isso fez um visto para estudar inglês no país norte-americano, e assim, pôde ficar por 18 meses. Lá morou na cidade de Saint Paul, Minnesota.
Quando retornou ao Brasil, estudou Teologia por um ano, em São Leopoldo. “Naquela época eu queria voltar para os Estados Unidos. O pastor não sabia como podia fazer para me ajudar a voltar para o país. Ele conhecia uma família na Alemanha, e, como eles precisavam de uma babá, me indicou para trabalhar lá”, conta a três-maiense.
Haidy foi para a Alemanha, em 1984, onde mora desde então. “Trabalhei como babá por dois anos e meio, para a família de Juergen e Ruth Ahrend. Depois eles abriram uma empresa que conserta tubos de órgãos para igrejas e escolas de música”, recorda.
No país, ela precisou estudar alemão em uma Universidade 5t614f
Haidy conta que os seus pais conversavam em alemão em casa. “Nós entendíamos, mas não falávamos. Quando eu cheguei na Alemanha eu não entendia nada, porque no Brasil se fala um alemão misturado com o português. Nas primeiras semanas eu conversava em inglês com a família”, diz.
Algum tempo depois, ela começou a estudar alemão com um professor particular, em uma universidade a 60 quilômetros da cidade. “Eu queria um certificado, caso eu voltasse para o Brasil. Então, eu ia de bicicleta até a estação ferroviária, onde pegava o trem até a universidade três vezes por semana para ter aula em alemão”, recorda.
O começo na profissão 395l2i
Como a vontade dela era de permanecer na Alemanha, e a família também gostaria que ela ficasse naquele país, Haidy foi aprendendo a reparar os tubos de metais e de madeiras de órgãos musicais. “É comum nas igrejas da Alemanha e da Europa terem órgãos musicais. Diria que 95% das igrejas tem um órgão com tubos”, informa.
Então, a três-maiense começou a trabalhar na empresa Orgelbau Ahrend, que fabrica e restaura órgãos musicais. “A empresa restaura instrumentos musicais de toda Alemanha e Europa, além dos Estados Unidos, Japão, Canadá e Austrália”.
Ela destaca que o trabalho de reparação é realizado com chumbo e estanho. “Nós fazemos a fundição das plataformas, um trabalho manual, sem muitas máquinas. A fundição de chumbo é em 425°C e o estanho, 320°C. Temos que controlar a temperatura. Se dá muita bolha, tem que colocar novamente na plataforma”, exemplifica.
Órgãos são comuns em igrejas na Alemanha e em toda a Europa
Trabalho minucioso e manual 1l2b2
Nem todos os trabalhos são feitos com as máquinas. “A gente conserta os órgãos antigos e é um trabalho bastante minucioso. Temos que pesquisar como foi desenvolvido esse órgão, que pode ter 300 ou 400 anos. Às vezes o órgão tem tubos de outros órgãos ou construtores. Nesses casos têm que fazer toda a separação dos tubos e um relatório para identificar onde estava esse tubo”, observa.
Haidy comenta que muitas vezes encontram órgãos batidos, que ficaram anos sem serem tocados ou abandonados. “Os órgãos possuem registros. Um registro de tubo tem de 48 a 58 tubos. Talvez possa faltar algum tubo. Você tem que restaurar os que estão danificados e repor esses que faltam. Todos da mesma grossura, para ficar como era o original”, frisa.
Ela comenta que anos atrás, ia junto para instalar os órgãos. “Nós montamos o órgão dentro da firma. Temos que fazê-lo como ele é na planta, com todas as medidas respeitadas. Hoje em dia eu vou somente para a afinação, que pode durar de quatro a oito semanas com 12 até 14 horas de trabalho por dia”, diz.
O tempo para restauração depende do número de registros do órgão. Um registro de 1,2 m leva 65 horas para ser feito. Os tubos da frente, que são grandes, levam em média 230 horas para sere restaurados. “O tamanho é o que dá os sons graves e agudos. Quanto menor, mais agudo, quanto maior, mais grave”, explica.
Fila para restaurar é de cinco anos 354n5u
Geralmente os órgãos são feitos para as igrejas da Congregação Luterana, Católica e algumas comunidades da Igreja Batista. Mas também são feitos para concertos. “Nós já fizemos um órgão bem grande para uma sala de concertos no Canadá”, revela.
Haidy ressalta que na Alemanha há muitos fabricantes de órgãos. “Hoje nós temos que fazer os contratos para entregar o órgão em cinco anos, por conta da demanda”.
Ela diz que o preço de materiais para fazer os tubos subiu muito nos últimos anos. “Com a pandemia, o estanho, que custava 18 mil euros a tonelada, foi para 40 mil. O preço de uma restauração depende do tamanho do instrumento e do estado em que ele se encontra”.
Geralmente, 10% do valor do órgão já é pago na da encomenda. “Ao começar a restauração, mais 40% e na entrega do órgão, o restante do valor deve ser pago. E as comunidades (as igrejas) também têm tempo para arrecadar o dinheiro".
Ela conta que tinha uma comunidade no sul da Alemanha em que o órgão custou 1 milhão de euros. A comunidade não tinha o dinheiro, mas, após o contrato, começou a arrecadar os valores, somente entre os membros da igreja, com doações e venda de produtos, como vinho, relata.
Na Alemanha, cresce número de pessoas que recebe auxílio do governo r2u62
Enquanto Haidy se dedica à sua profissão, ela conta que na Alemanha há muitos desempregados que recebem auxílio do governo. “Desde a pandemia essa situação aumentou. Existem muitas vagas de emprego, mas faltam pessoas para trabalhar. Como muitas pessoas recebem auxílios do governo, eles não querem trabalhar. Se essas pessoas precisam de uma televisão ou de uma geladeira, por exemplo, o governo dá, além de pagar o aluguel. Mas agora, eles estão querendo cortar esses auxílios”, revela.
Ela fala que é bom morar no país, principalmente pela segurança. E conta uma curiosidade com relação às regras, por exemplo, ao lixo. Lá é proibido jogar qualquer tipo de lixo no chão. "Tem cidades em que se a pessoa jogar toco de cigarro no chão, e se o fiscal da prefeitura estiver vendo, ele pode multar”.
Por outro lado, a três-maiense lamenta que existem pessoas que pedem dinheiro na rua. “Mas também, às vezes, é uma máfia. São pessoas mandadas para pedir dinheiro. Dizem que precisam de dinheiro para pegar um trem para outra cidade. Usam esses truques para conseguir dinheiro”, observa.
Um hábito comum na cidade em que mora é o uso de bicicletas. “Tem bastante caminhos que são específicos para ciclistas”. Além disso, segundo Haidy, as pessoas gostam de ver concertos, quando surge este tipo de programa na cidade.
Órgãos são comuns em igrejas na Alemanha e em toda a Europa
A vida na Alemanha 562h2w
Haidy diz que existem outros brasileiros na cidade em Leer. “O país abriga bastante brasileiros, mas geralmente oriundos de São Paulo e de estados do centro do Brasil”. E, a cidade apesar de ser pequena, oferece aos moradores tudo o que precisam, com diversas opções em lojas e mercados.
Sobre a remuneração, ela afirma que recebe um bom salário. "A cada três ou quatro anos recebo um aumento. Se você ganha um salário bom, consegue viver bem”, diz a três-maiense, que mesmo assim ainda prefere o Brasil.
O aluguel é o que mais afeta o bolso dos alemães. O metro quadrado custa de 8 a 9 euros. “Morei 27 anos em uma casa ao lado da firma em que trabalho, a qual pertencia para a firma. Então, gastava menos aluguel. Quando o meu chefe vendeu a firma para o seu filho, ele quis fazer o escritório nessa casa e eu tive que sair. Estou morando há oito anos em uma casa que custa 800 euros (cerca de R$ 4.140) por mês para o aluguel, água, luz, gás e o seguro da casa. Um terço do salário vai só para esses pagamentos”, relata.
Os pagamentos na Alemanha são por hora trabalhada. O salário pago, já vem com os descontos com o plano de saúde, seguro-desemprego, aposentadoria, impostos e até a igreja. Não existe o pagamento do 13° salário. Os trabalhadores recebem um pouco referente a férias, que também têm descontos. São 30 dias úteis de férias, em que não são contados os dias de folga e feriados.
As principais igrejas na Alemanha são a Católica, a Evangélica Luterana e a igreja Evangélica Reformada, que é uma igreja que não tem cruz e altar. “Na nossa região não há muitos católicos, são mais na região da Baviera, ao sul do país”.
Cidadania alemã 2p584b
Desde 1998, Haidy tem cidadania alemã. “Primeiro eu pensava que não precisaria. Porém, quando fui a trabalho para o Japão vi que era muito necessário. O povo alemão não precisa de visto para ir ao país, porém eu, como brasileira, precisei. Um dia antes de embarcar eu fui para a cidade de Colônia pegar um visto do consulado japonês. Com isso, eu decidi que queria ter cidania alemã".
Como tinha ascendentes alemães (seus avós nasceram na Alemanha), ela tinha o comprovante da igreja em que foi batizada e ou confirmação. "Recolhi todos os papéis que tinha e encaminhei. Também paguei 500 marcos (moeda da época), pois a Alemanha não tinha convênio com o Brasil. Não tive que fazer nenhuma prova, somente o meu chefe precisou comprovar que eu trabalhava com ele”, explica.
Haidy esteve em Três de Maio entre 12 de outubro e 17 de novembro. Seu retorno para a Alemanha será no próximo dia 21. Essa foi a primeira viagem dela ao Brasil desde o início da pandemia de Covid. Antes, ela havia visitado os familiares no ano de 2019.
Tubos restaurados
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