ECOS DO TEMPO: Vozes que atravessam gerações 5u482z

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ECOS DO TEMPO: Vozes que atravessam gerações
Elcina Terezinha Schaeffer nos ensina que a vida pode ser bonita, mesmo na simplicidade e nos dias comuns

O projeto Ecos do Tempo tem a iniciativa da diretoria do Lar Amigo dos Idosos de Três de Maio, com o apoio de parceiros voluntários, e busca valorizar a memória e a identidade dos idosos, resgatando suas histórias de vida e promovendo o reconhecimento social, o respeito e a escuta afetiva.

"Ao compartilhar essas vivências com a comunidade, o projeto também fortalece vínculos entre gerações e inspira olhares mais humanos e empáticos para a velhice. São relatos cheios de afeto, sabedoria e simplicidade — um verdadeiro convite a ouvir com o coração", explica Miréia Bohnen, integrante da diretoria do Lar e uma das idealizadoras do projeto.

O projeto Ecos do Tempo traz à tona memórias, histórias de vida e lições preciosas contadas por idosos do Lar Amigo dos Idosos de Três de Maio, que serão publicadas através do Jornal Semanal, Nossa Revista e de vídeos nas redes sociais - Instagram  e Facebook do Lar. 

 A cada edição do Semanal, uma nova trajetória cheia de sabedoria, afeto e memórias vem à tona. Hoje, a inspiração vem da leve e encantadora Dona Elcina Terezinha Schaeffer, 76 anos, que, entre risos e lembranças, nos ensina a arte de viver com leveza.

Acompanhe e emocione-se com essas vozes que resistem ao tempo.
 

PROJETO ECOS DO TEMPO
APOIADORES:
Diretoria da Associação Tresmaiense dos  Amigos dos Idosos
Amara Werle - Jornal Semanal 
Betina Cesa - Nossa Revista
Narjana Pedroso - @npagenciacriativa - gravação e edição dos vídeos
Luciana Thomé Chedid (Luka) Loja O Boticário maquiagem e cabelo
Arlene Bender - entrevistas 
Miréia Bohnen - edição escrita das histórias 
OBS: as entrevistas e publicações foram autorizadas pelos familiares. 

 

 

Dona Elcina Terezinha Schaeffer (centro)  mora no lar há quase 6 anos. Pinturas em desenhos e jogos de cartas  estão entre as atividades preferidas

 

'Valorize as amizades verdadeiras e o olho no olho – como antigamente' 

Na tarde ensolarada em que fomos visitar o Lar dos Idosos, não sabíamos que íamos encontrar uma verdadeira contadora de histórias — daquelas que fazem a gente rir, se emocionar e, no final, sair com o coração mais quentinho. Dona Elcina Terezinha Schaeffer, 76 anos de pura simpatia, nos recebeu com um sorriso e uma memória afiada que é quase um baú de tesouros. “Nasci em Boa Vista do Buricá, e olha... fui criada na roça com mais oito irmãos. Estudei até a quinta série, em Boa Vista do Buricá, era o que tinha,  eu pegava as vacas, botava no arado, lavrava um pouquinho, pra ajudar a mãe — e gostava! Vai entender…”, conta Elcina.

Aos 12 anos, enquanto muitas meninas ainda brincavam de casinha, Elcina trocou as bonecas pelo trabalho de doméstica em Três de Maio. “Fui trabalhar na casa do Manfredo Mensch e fiquei lá por 17 anos e meio! Cuidei dos quatro filhos deles, praticamente criei eles, porque quando cheguei o Pedro tinha quatro aninhos e a Ana Karina três e a Dona Vera estava esperando o Francis. Depois de cinco anos veio a Luciana", relembra emocionada.

Com humor e uma doçura inata, ela conta que a patroa era professora, então quem mandava na cozinha... era ela. “A Dona Vera dava aulas, quem fazia tudo era eu.”

Mas a vida também tem seus giros engraçados. Quando os patrões decidiram se mudar para Porto Alegre, Elcina não quis saber de “cidade grande”. Assim foi parar em São Sebastião do Caí, para cuidar de uma vovó, através de um convite de uma professora onde — surpresa! — conheceu o marido. “Fui cuidar de uma vovó e acabei encontrando o ‘véio’ da minha vida!” 

Eles casaram, retornaram a Boa Vista do Buricá, e viveram juntos até a partida dele, após 18 anos de casados.

Hoje, Elcina mora no lar por escolha própria.  “Meu marido faleceu, não tínhamos filhos. Ele tinha filho de outro casamento. A minha irmã mais velha que eu, foi morar comigo e também faleceu, daí eu tava bem sozinha.  A minha irmã mais nova queria que eu voltasse para casa, mas   estou no lar há muitos anos e aqui eu me sinto muito bem. Tenho meu cantinho, minhas memórias, e amigos para jogar conversa fora”, explica a idosa.

E quando o assunto é diversão, Dona Elcina não fica para trás. Ela adora um bom jogo de canastra –  “Aprendi vários tipos  de canastra, porque aprendi a jogar bem nova  com meu pai, ficava sentada ao lado dele, olhando ele jogar com os amigos e meu marido também gostava de jogar  canastra”,  um hobby que ela já tinha antes de sua chegada no lar e mantém até hoje. E é nessas tardes de cartas e risadas que ela mostra que a vida, em boa companhia e um baralho na mão, fica ainda melhor.

Com uma simplicidade encantadora, Dona Elcina nos ensina que a vida pode ser bonita mesmo na simplicidade e nos dias comuns. "Basta olhar com os olhos certos – os olhos de quem vive com o coração aberto", aconselha. 

Quando perguntada sobre a juventude de hoje, comparada a época em que ela era jovem, e qual mensagem ela gostaria de deixar para os jovens, ela solta, sem pensar duas vezes: “A gente não tinha naqueles anos que a gente era nova o que a juventude de hoje tem – liberdade – mas naquela época os amigos eram de verdade – mais que irmão. A saudade é grande, mas eu não esqueci de nenhum.”

Esta história cheia de afeto, mostra que viver é uma arte e Elcina, do seu jeito, nos deixa esse recado:  “Valorize as amizades verdadeiras e o olho no olho – como antigamente”. 

Entre as, risos, canastra e muito carinho, ela fez do cotidiano um palco para o amor e a dedicação e sobretudo é um lembrete de que viver bem não tem a ver com luxo, mas de  amor, trabalho e boas histórias para contar.